segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Marcelo Camelo


É muita história pra contar, passo a passo, mas já faz dois meses que a "Ana Camelo" (vou divulgar o trabalho incrível dela no decorrer dos dias), mãe do Marcelo Camelo, me passou uma foto belíssima dos dois, tanto que não consegui esperar para compartilhar com todos os hermaníacos da página somente hoje, aniversário do Marcelo. Não vejo melhor dia e melhor forma para começar a falar dele. Muito obrigada, Ana. E aqui está:


                                                      Foto de Ana Camelo. 




Mas vamos aos primeiros trabalhos. Não é novidade pra ninguém que o Marcelo começou sua carreira com a banda Los Hermanos e já no primeiro disco ganhou um imenso destaque com a música Anna Júlia, de sua autoria. O sucesso e reconhecimento do público também o acompanharam nos próximos três discos: Bloco do Eu Sozinho, Ventura e 4. Para não me repetir, deixo um breve relato dos respectivos assuntos a seguir: 





4
  


Carreira solo


Sou, 2008 - primeiro trabalho solo de Marcelo Camelo.

Com o recesso que a banda anunciou em 2007, Marcelo afirma que ainda não tinha perspectivas, entretanto, a maior parte do seu tempo era compondo. Vale ressaltar que as composições vieram sem nenhuma pretensão. Aliás, o disco em si foi surgindo aos poucos, quando não havia se quer uma ideia sobre ele. “Sou” é o quinto disco de sua vida e o primeiro de seu trabalho solo. A forma com que se baseia ao escrever não mudou, continua sendo algo muito pessoal, a forma como vê a vida, a fase em que está e até mesmo para onde quer ir. Em uma de suas entrevistas exemplificou: “as músicas que eu faço, as coisas que eu faço, elas me servem de degrau para eu dar o próximo passo.”
Dessa forma, não poderia e não deveria ser diferente. O “diálogo constante” entre a vida e as músicas do Marcelo resultou em mais um belo trabalho. 
Citar o grande destaque do disco seria uma ousadia, são letras e melodias muito bem arranjadas. "Santa Chuva" foi regravada pela Maria Rita e "Janta" veio com uma participação mais que especial da mulher do Marcelo, Mallu Magalhães. 

Para ouvir as músicas clique sobre o nome: 



Algumas das músicas não estão abrindo no "mixcloud", mas são fáceis de achar. Porém, se preferirem, é só me pedir pelo e-mail: joyceaam@hotmail.com


E assista:




Toque Dela - Segundo disco solo de Marcelo Camelo.

Ainda há muito o que dizer, mas antes deixarei as músicas do álbum “Toque Dela” para quem quiser ouvir e conhecer mais sobre a carreira solo do Marcelo. No mais, fica nossa gratidão a esse poeta que hoje (4 de fevereiro) completa mais um ano de idade. 





Entrevista com Marcelo Camelo, publicada na revista Rolling Stone Brasil



Alguns dizem que o seu primeiro foi um disco carioca e esse segundo seria paulista. Você concorda?

Pode ser.


Mas a temática não é tão específica?

A mudança do ambiente - e das pessoas em volta - mudam o seu olhar sobre o mundo. Não é só a paisagem que muda. Muda o seu jeito de ser, de ver as coisas. Sob esse aspecto, é um disco paulista. Não é um disco sobre São Paulo. Mas cada lugar tem um cheiro, um grupo de pessoas e acho que essa parada influencia mesmo.

Você tem um tema recorrente em suas músicas, o mar, que reaparece em Toque Dela. Estando em São Paulo, isso mudou?

Eu sou de Jacarepaguá, longe do mar... O mar está dentro da gente, não dizem que tem 90% água no corpo do ser humano? A gente é mar para caramba. É como céu, vento: se tu não tem, tu imagina. E até os 15 anos eu morei em Jacarepaguá que é longe do mar. Não é longe como São Paulo, mas é um chãozinho pra chegar ao mar, e eu não o via com muita frequência.

Existe um estereótipo do Rio, do carioca?

O subúrbio do Rio, que é a maior parte da cidade, não tem nada a ver com esse Rio que se vê na novela, na TV. Esse da televisão é muito pequeno: Lagoa, Jardim Botânico, Ipanema, Copacabana. Vai da Barra até a Glória, é restrito. E não tem nada a ver [com os subúrbios], é totalmente diferente. Quanto mais você vai se afastando, cada lugar tem a uma personalidade. Mas o que vigora é esse estereótipo do carioca. Mesmo dentro da cidade. Na minha rua, por exemplo, tinha o carioca dos cariocas e também aquele cara que não sai de casa, e fica vendo seriado na TV. Que não gosta de sol, de piscina, não joga bolinha de gude e nem futebol.

Você já conhecia o pessoal do [grupo paulistano] Hurtmold antes de começar a tocar com eles e se mudar para São Paulo?

Eu conhecia antes de vir. No processo para gravar a "A Gaivota", que foi a primeira música que gravei com eles. Tinha feito a música e conhecido o Hurtmold, estava naquela época de processo do disco, pensando em quem vai gravar o que, assinalando as músicas para as pessoas. Eu achava que essa música tinha a ver com eles, chamei por causa disso, e nessa a gente se conheceu.


E você os conhecia de nome, internet, de shows?

Uma vez quando fizemos um show lá no Canecão, o Los Hermanos, e chamamos três grupos para abrir. Foram três noites lá no Canecão. Cada noite foi um grupo: o Cidadão Instigado, o Carne de Segunda, que eu não me lembro se tinha esse nome, porque depois virou Do Amor, e o Hurtmold. Então já conhecia o som.

Ao mesmo tempo, o Rio tem esse lance de não ser muito roqueiro.

O Rio sempre teve senso de humor, uma autoimagem que parece que se leva meio na brincadeira. Eu vivi a cena underground lá no Rio e era bem rock, tinha rock pra cacete em qualquer lugar. Mas as bandas de lá não tinham nada a ver com essa parada de São Paulo. Eu me lembro, na época que fiz fanzine, de ouvir falar dessas bandas [paulistanas]. E a cena do Rio era muito diferente. Sempre teve essa diferença de cor e de jeito. Acho engraçado porque agora, indo e vindo na cidade, consigo entender um pouco melhor essa estética de São Paulo e consigo entender porque eles não conseguem aceitar a Blitz, por exemplo. Sei lá, são fenômenos que são muito cariocas para quem olha de fora. Mas sempre teve rock lá, sim.

Pessoalmente não houve um estranhamento musical quando você começou a trabalhar com o Hurtmold, exatamente por vocês serem de lugares musicais tão diferentes?

Não, porque a nossa união se deu justamente no momento em que eu estava fazendo uma música bem subjetiva, uma música do inconsciente, menos pop, talvez. Minha música não tinha pulsação. Uma das coisas que mais me interessou no Hurtmold é que eles não tinham pulsação. Eles variavam o beat, o andamento da música. Era exatamente o que eu precisava: tocar com um conjunto que fosse como o vento, que fosse como a água, fluido no seu percurso, ao longo da música, que pudesse balançar de acordo com as ocasiões. Então, a gente teve esse encontro na subjetividade desde o primeiro encontro. Tanto que a ideia era gravar só "A Gaivota", e depois a gente gravou outras músicas. E aí acabei chamando eles pra tocar comigo. Foi um grande encontro.

(...)


Quando você decidiu estudar jornalismo o que te atraía?

Eu fazia um fanzine, foi totalmente por causa dele. Eu estava na dúvida entre isso e biologia. Gosto até hoje de biologia. Aí conheci o Alex [Werner], amigo, produtor dos Los Hermanos durante muitos anos, e ele me mostrou o underground. Isso com 16, 17 anos. O Alex ouvia, sei lá, o cara mais estranho do mundo aos 12 anos. Ele ouvia o Pranzo Oltranzista, do Mike Patton, com barulho de garfo e coisas assim. Foi ele quem me levou aos primeiros shows. Por causa dele conheci as bandas que me fizeram ter banda. O meu universo de música era muito distante da minha realidade. Mesmo quanto ao vocal: o inglês é um fonema que suscita uma entonação mais aguda do que o português. Os cantores ingleses e americanos têm um timbre, em geral, mais agudo. Eu não conseguia cantar, não alcançava. Eu achava que eu não daria para cantor nem fodendo porque eu não conseguia chegar nas notas. E também teve a coisa visual: esse contato com o underground foi meio choque nesse sentido, de ver os caras vestido como eu, as mesmas roupas, tocando. E daí a gente começou a escrever o fanzine junto. Chamava DooStraw porque o Alex era fã do Pixies [referência a Doolittle, clássico da banda, de 1989], então o "doo". E "straw" porque ele fazia uns desenhos, uns tracinhos, tipo palha. Era bom fazer o fanzine. A gente era garoto e fazia umas perguntas inocentes, diretas. Eu nunca vi ninguém perguntando ao Planet Hemp se eles não tinham problemas em casa, com os pais, por falarem de maconha. Era pergunta que a gente fazia, meio torta. A gente entrevistou Little Quail, a minha banda preferida da época, o Planet Hemp, o Ratos do Porão, o Gangrena Gasosa, o Pato Fu. Tinha banda pra caralho que a gente gostava. Foi muito legal, enriquecedor. E, durante os Los Hermanos, me fez entender como funciona a parada da música. Como não é só caminho da gravadora e depois estourar, como existe outra coisa acontecendo.

Seu modo de tocar guitarra mudou na carreira solo. Em alguns momentos você até usa uns gravadores. É permanente ou é só uma fase?

O lance de dos gravadores, do barulho, é essa descoberta da improvisação livre, desse pessoal de música mais estranha que eu descobri tardiamente. Acho bonito o negócio do ruído, da interferência. Mas acho que mudei mesmo o meu jeito de tocar guitarra porque é uma relação com o instrumento antiga, a gente vai mudando mesmo, é natural. Mas acho que eu estava tentando encontrar no instrumento elétrico, a guitarra, as muitas cores da música brasileira, da sinuosidade harmônica da música brasileira. Estava tentando tocar aquele universo da Chiquinha Gonzaga, do Dilermando Reis, do Garoto, do Canhoto da Paraíba. Eu ficava tentando trazer isso pra guitarra, o choro, aquela coisa melodiosa, trazer isso para a linguagem do rock. A música brasileira é toda sinuosa, curvilínea e ela tem essa força e essa fraqueza - e o rock é quadrado, puro e tem uma força por causa disso e tem uma fraqueza também por causa disso e eu ficava tentando trazer um universo pra dentro do outro. Tentando fazer uma coisa que tenha a pegada e a pulsação do rock, mas sem perder a sinuosidade e a dolência da música brasileira.

As letras do primeiro disco dos Los Hermanos são extremamente amargas. As letras do disco novo são de louvor ao um amor. Não necessariamente um amor físico, mas o amor como ideia.

Pode crer.

Você acha que a temática tem a ver mesmo com o seu momento?

Tem sempre a ver. E quanto mais inconsciente fica o processo de feitura, mais ele se mistura com a vida pessoal. Tem a ver com este apartamento, tem a ver com este fogão. O disco é do lugar em que ele foi feito, bastante. Quando vou ao meu apartamento lá no Rio, pego o violão e penso: "Porra, essa música é daqui, 'Teo e a Gaivota'... Caralho, eu tinha de chamar todas as pessoas pra sentar aqui, uma a uma, e ouvir o que eu estou ouvindo aqui neste lugar!" É muito do lugar o disco, sabe?

Ler entrevista completa.






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